quinta-feira

Correio de Leitores - " Será o meu marido viciado em cibersexo ?"

.


Relativamente à questão de uma leitora, que encontrou o marido várias vezes em chats de sexo na internet , e  me questiona ‘’ se o seu marido estará viciado” , opto por descrever alguns dos problemas actuais com que o ‘’cibersexo’’ nos confronta.



No entanto, e através do simples relato de que o marido desta leitora acedeu por várias vezes a sites de cibersexo, é impossível incluí-lo nesta nova categoria de adictos, pelo que lhe sugiro, e antes de tudo o mais, o estabelecimento de uma comunicação franca e aberta com o seu marido sobre a vossa relação, e as verdadeiras motivações para aceder a esses conteúdos. Paralelamente, serão aqui indicados, de forma muito geral, alguns sintomas normalmente presentes neste transtorno, que poderão ajudá-la a  clarificar o seu receio.


É inegável que os ’psis’’ de hoje estão a ser confrontados nos seus consultórios com um número cada vez maior de comportamentos sexuais compulsivos, devido também à elevada dependência, gerada pelo cibersexo, e que esta afecta indivíduos cada vez mais jovens - há, inclusive, estudos que indicam a existência de muitos pré- adolescentes completamente ‘viciados’ em sítios de sexo virtual.

Segundo o investigador Alvin Cooper *, por ser anónimo e acessível, o cibersexo oferece aos seus utilizadores um leque diversificado de opções que podem rapidamente produzir sérias consequências negativas. Num estudo que envolveu cerca de nove mil internautas, 17 % reportaram problemas que atribuíram ao sexo virtual. Com efeito, indivíduos que sem a internet poderiam nunca vir a desenvolver problemas sexuais passíveis de tratamento, encontram-se, nos dias de hoje, com graves disfuncionalidades que , quando afectam o próprio e/ou aqueles com quem se relacionam, carecem de terapêutica adequada. Tal acontece, fundamentalmente, porque o mundo do sexo virtual permite, ultrapassar facilmente as próprias regras, aceder ao não-resolvido, e agir fantasias sexuais que, sem esta oportunidade, poderiam não chegar a efectivar-se comportamentalmente.

Por outro lado, um dos seus  grandes inconvenientes advém do facto de que, e à semelhança do que acontece com algumas drogas como o crack, logo nas primeiras utilizações, o cibersexo, pode tornar dependentes alguns dos seus utilizadores, e deste modo,  indivíduos que, à partida, não se encaixariam no ''perfil '' típico de um adicto, estão a tornar-se viciados em cibersexo.

Com efeito, a internet permite uma nova liberdade sexual, e catalisa um estado de alheamento de si, propício à ocorrência dos ‘’highs’’ sexuais. Rapidamente se seguem a preocupação, a obsessão, e a compulsão Uma vez adicto em sexo virtual, a “escalada” é quase inevitável, e como tal, aumenta a necessidade da quantidade e novidade É então que a probabilidade de comportamentos sexuais de risco aumenta dramaticamente .

Esta “escalada” pode tornar-se uma verdadeira obsessão, com a emergência de novos padrões comportamentais que rapidamente se fixam. São prováveis, igualmente, a ocorrência de uma regressão relacional - afastamento e perda do interesse sexual com o parceiro habitual – caso exista- , e a catalisação de comportamentos aditivos e compulsivos prévios, com emergência de novos comportamentos sexuais ‘’off-line’’.

De assinalar, que grande percentagem de clientes que a nós recorrem, afectados por estas problemáticas não são os dependentes de sexo virtual , mas sim os seus parceiros, que procuram ajuda por se sentirem ‘’traídos ‘’, “confusos”, “deprimidos”, e incapazes de competir com a internet.

Frequentemente, os sinais de traição internáutica incluem :

• Mudança nos padrões de sono e exigências desabituais de privacidade.

• Ignorar de responsabilidades.

• Mudanças de personalidade e mentira

• Perda de interesse pelo sexo , na relação

O envolvimento dos membros da família no tratamento desta, como aliás de outras, dependências, é muito benéfico. Começam inclusive a surgir,  à semelhança do que acontece com os alcoólicos , grupos de  auto-ajuda para co-dependentes de sexo virtual.



* Cooper, A., Delmonico, D., and Burg, R. (2000). “Cybersex users and abusers: New findings and implications.” Sexual Addition and Compulsivity: The Journal of Treatment and Prevention, 7, 59-74.

 
Copyright 2009 P s i c o l o g i a (s). Powered by Blogger