quinta-feira

The Painted Veil (2006)

The way back machine II





"we'll always have..."

...filmes como esta adaptação do romance homónimo de Somerset Maugham , que se distanciam da linearidade das histórias de amores- à-primeira- vista, proibidos ou não correspondidos , ou das tão frequentemente filmadas histórias de homens e mulheres melancólicos e impotentes perante as agruras da vida, principais responsáveis pela separação dos amantes.
Não tão comuns, actualmente, no cinema como as ficções ou realidades que retratam as várias facetas deste novo ideal de Amor, 'contingente', reflexo da forçosa desmitificação do 'amor romântico', insustentável perante a instabilidade e transitoriedade da vida e conjugalidade modernas, dizem-me muito mais estas, que renegam determinismos , almas - gémeas, e relações fáceis - momentaneamente perfeitas e, consequentemente, demasiado descartáveis-, argumentos que invertem a ordem instituída das 'sequências ideais e idealizadas', desvalorizam os jogos de sedução , e nos dão conta do êxito improvável da relação entre dois seres (muito) humanos, repletos de defeitos que pouco têm para 'dar certo', mas que persistem, e vencem , apesar dos custos e sofrimentos inerentes, as grandes batalhas que travam interiormente, e entre eles, num cenário igualmente conflituoso, que tanto tem de assombrosamente belo, como de terrífico.

E contudo,  li que houve quem considerasse este filme "longo, lento, e muito pouco imaginativo"


(...mas como as vidas também o são, mor das vezes,  apetece  rever o " Orgulho e Preconceito")





La Moustache

(The way back machine I)


A maior perversão do filme 'La Moustache', para além do incompreensível título português "amor suspeito"é , na minha opinião, a adaptação do romance do próprio Carrère conseguir apresentar-nos a fragilidade da identidade e da sanidade, a irrupção da paranóia, e a ameaça do espaço seguro (e securizante) dos nossos passos, relações e gestos mais familiares, da mesma forma que um soberbo episódio da "The Twilight Zone" , e que como tal, independentemente da plausibilidade dos pesadelos dos protagonistas, dificilmente os encaramos como nossos.


Com efeito, o realizador consegue distanciar-nos da loucura , ao exibir magistralmente a lógica realistica das explicações antagónicas que cada um dos elementos do casal detém para os mesmos acontecimentos ambíguos, cabendo aos espectadores as considerações sobre a realidade /ilusão que os factos encerram. O realizador aguça-nos as incertezas quanto ao carácter das personagens, consciente que, tal como Marc (Vincent Lindon) que, no desfecho, abdica perfidamente da sua verdade (no romance, o protagonista suicida-se), também nós já questionámos a validade das nossas percepções.

Emmanuel Carrère sabe que também nós, espectadores, nos cruzámos directa ou indirectamente com a insanidade e destrutividade, até então bem ocultas numa fachada de equilíbirio mental e correcção moral de pessoas que julgámos próximas; que todos nós desejamos ardentemente que as aparências correspondam à verdade das coisas para que assim possamos agarrar-nos à fiabilidade das nossas percepções; que já ignorámos as incoerências daqueles que sabem comportar-se como se tivessem sentimentos, e que apesar de desprovidos de qualquer capacidade empática, são - como diria Arno Gruen - "apresentadores (exímios) da consciência" ( dramatizam a ideia que têm de amor, da ternura, da raiva , do remorso e da vergonha, mas não as emoções realmente sentidas); sabe que alguns de nós nos 'deitámos com o Diabo', e que a dada altura optámos, perversamente, por também fechar os olhos.





 
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